sexta-feira, 6 de abril de 2012

SAUDADE

Fiz, em abril de 2000, um texto para o tema Saudade. Até onde me lembrava, fora escrito para o Projeto Palavra, sarau literário do qual fiz parte (vide post de 07/06/11), mas confesso agora que tenho dúvidas. Tempos idos, idade que avança...
Segue, então, o texto descrevendo este lugar de onde ainda sinto saudades e que continuo não conhecendo pessoalmente. Talvez seja um lugar mítico absorvido de imagens que penso viverem em Minas. Se alguém souber, me avise.


Saudade

Ainda como orvalho repousando sobre aquelas milhares de verdes folhas que se misturavam ao cheiro refrescante da hortelã, os primeiros amarelos do sol espreguiçavam-se pelo céu, que de um azul quase negro já vinha acordando claro com o vento leve soprando sua cor por sobre o perfume suave da rosa, do cravo e do jasmim.
A terra ainda molhada pela madrugada, murmurava seu cheiro vermelho nas asas do colibri, que indo-vindo por entre as flores, como que dançava nas ondas púrpuras do canto do bem-te-vi.
O amarelo do astro rei, tornava-se aos poucos amarelo-ouro e se estirava ao longo do campo transformando o que quer que tocasse na maior riqueza que já se viu.
As águas claras, quase sem cor do rio que descia a montanha, fazia navegar um cheiro gostoso que mais pareceria um som ou um toque; talvez o canto das pedras ou o carmesim de uma história que a correnteza trazia.
As vozes de centenas de pássaros seriam hino acompanhando aquele batalhão de cores que misturavam-se pelos campos, formando um sem número de cores jovens entre laranjas-marrons, azuis-violetas, dourados-pratas e verdes-carmins.
E a hortelã já se perdera entre o agridoce do pomar, de manga-rosa, laranja-lima, banana-ouro e pêssego, ameixa e tantas outras...
Bastava, então, abrir os olhos e olhar em volta, e depois fechá-los para respirar fundo e sentir cada nova fragrância divagando no ar. Bastava estar ali para sentir-se vivo.
Saudade de Minas eu sinto. Saudade da vida que se fazia infinita entre a mistura das cores, dos cheiros e de tudo mais.

___Ronaldo dos Santos

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

SE VIRA [jogo de tabuleiro]

Fiz, por volta de 1998, um jogo colaborativo em que os participantes precisavam chegar ao final do tabuleiro acumulando tarefas como encostar o polegar direito na orelha esquerda, equilibrar uma carta no ombro, ficar com a língua pra fora, ficar com o pé encostado no de outro jogador etc.
Anos depois, o amigo Everaldo Pereira, parceiro de ideias na ARVEN (www.arven.com.br) reformulou o visual e o jogo foi batizado de Todos Contra o Zombeteiro.
Em 2010, a Estrela - tradicional fabricante brasileira de jogos e brinquedos - lançou nosso jogo com pequenas mudanças e rebatizado de Se Vira.
O jogo exige habilidade e cria situações bem engraçadas, proporcionando momentos de interação bastante divertidos para crianças e adultos descontraídos.
Se quiser arriscar, então, Se Vira pra chegar até o final!


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PRESÉPIO PRESEPADO [crônica]

Fiz, em dezembro de 2002, um texto para concurso de shopping com o tema "um Natal engraçado" - pelo menos é o que me lembro.
Gostaram do texto e acabei ganhando um aparelho de dvd por ter sido um dos selecionados pela comissão julgadora.
Segue, então, o pequeno conto e com ela meus votos de boas festas e de um 2012 repleto de boas histórias.

"Naquele ano a festa de Natal da empresa teve um presépio encenado.
Tinha bezerro como boi, puddle como ovelha e dois homens numa fantasia de jumento.
Tudo ia bem até que um garoto da plateia acertou uma latinha na cabeça do bezerro.
O bicho saiu em disparada. A Estrela Guia, assustada, correu para o outro lado; o terceiro Rei Mago tropeçou na túnica do segundo e os três foram ao chão. A cabeça do jumento correu para um lado e o traseiro para o outro; e a ovelha mordeu a canela de José.
Diante da confusão, Maria - a gerente - só conseguiu ficar parada e exclamar: Jesus! E o anãozinho em seu colo só pode retrucar: corre que a bezerra endoidou!!"

___Ronaldo dos Santos

quinta-feira, 28 de julho de 2011

VENTO [música]

Fiz, em 2008, a música Vento, a primeira composição criada especialmente para o repertório do Batucantante (www.batucantante.com.br).
Nesta gravação, a voz é da Quel (Raquel de Souza), a guitarra é de Eduardo Ferreira e o sopro é meu (com um pouco de efeito, mas com uma boa tomada de fôlego!).
Nos espetáculos do grupo, a criançada sopra junto e o som do vento surge com jeito de brincadeira.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

TE PEGO NA SAÍDA [crônica]

Fiz, em setembro de 1998, uma segunda crônica de escola com a mesma figura do texto ASCENÇÃO E QUEDA (postagem anterior, 29/06/11).
Tá escrito em primeira pessoa, mas, desta vez, felizmente, não é baseado em fatos reais.

TE PEGO NA SAÍDA

   Na escola, alguns boatos correm mais rápido que o Papa Léguas. Naquele dia nublado de agosto aconteceu um caso.
   Espalhou-se entre os alunos a notícia de que o Janjão, o garoto mais chato, carrancudo e forte da escola, iria brigar na hora da saída com um menino do 6o ano.
   Como todos os outros naquela época e fase da infância, também fiquei empolgado com a história, afinal, a coisa toda não era tão séria assim, apesar de alguns machucados alheios.
   Entre os comentário das rodinhas fiquei sabendo que a vítima seria um garoto chamado Lauro.
   Foi como uma trombada de caminhão. Eu era do 6o ano, me chamava Lauro e aprendi naquele instante o significado da palavra pânico.
   Seria um massacre: um gorila contra uma formiga, um Jumbo chocando-se com um Teco-teco, uma bola de boliche atropelando uma bolinha de isopor. E eu nem sequer falava com o Janjão.
   "Pai nosso que estais no céu..."
   Já sei, a culpa era dos meus pais. Por que tinham me dado o nome de Lauro? Podia ser José, Cléber, Ramiro, sei lá, menos Lauro, Lauro não, Lauro ia ser o garotinho reduzido a pó pelo Janjão. Depois da surra com certeza iriam aspirar o que restasse de mim. Isso se não jogassem água e meus restos escorressem pelo bueiro. Que horrível!
   "Aqui jaz os grânulos de Lauro, o menino que por azar não se chamava Ramiro."
   Lau era como me chamavam os amigos. Amigos para quem contei o meu drama e de quem ouvi incentivos, dicas de Jiu-Jitsu e despedidas emocionadas.
   Nunca torci tanto para que o sinal de ir embora não tocasse, e nunca uma aula após o intervalo passou tão depressa. Eu havia pensado em fugir, fingir um convulsão para ser dispensado mais cedo, mas não consegui ter qualquer tipo de ação, tamanho o meu desespero.
   Demorei a sair da classe ao toque do sino. No entanto, assim que consegui - através de muita psicologia - fazer minhas pernas pararem de tremer, fui decidido a enfrentar o orangotango com toda minha enorme força. De vontade. Não assinaria na frente da multidão da escola minha confissão de covardia.
   A rua estava lotada, com a famosa roda-ringue. Transpus o portão da saída relutando um pouco comigo mesmo, mas naquele momento, escutando a turma gritando "Lauro, pega ele!", "Vai Lauro, você é bom!", "Lindo!", tomei coragem, enchi o peito, persignei-me, amarrei os cadarços, assoei o nariz, cerrei as mãos, ergui os punhos, fechei os olhos (tudo não necessariamente nessa ordem), me meti no meio do povo defronte ao elefante Janjão e ameacei-o: "Vem Janjão, você não é forte o suficiente para me derrotar, eu vou acabar com você seu..."
   Antes que eu pudesse terminar, o brutamontes me empurrou com o dedinho e enquanto eu me espatifava no chão, dizia: "sai da frente, pirralho, deixa eu acertar contas com aquele folgado ali."
   O fato é que horas antes, envolvida em certo nervosismo, minha orelha havia me traído. Janjão queria estourar a fuça era de um menino do outro 6o ano chamado Mauro.
   Tudo acabado. Professores chegaram para evitar a briga e num instante a confusão se desfez, com os garotos briguentos levando uma severa repreensão.
   Voltei cabisbaixo para casa aquele dia, pensando que talvez eu ficasse famoso e respeitado na escola se eu enfrentasse o Janjão, mesmo que ele me arrebentasse. Coragem passaria a ser meu nome e as meninas ficariam se derretendo por mim. Forte, másculo, arrojado, sem medo de nada. Estava decidido: no dia seguinte espalharia um boato de que o Lauro do 6o ano, o autêntico Lau, iria pegar o Janjão na saída.

___Ronaldo dos Santos

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ASCENÇÃO E QUEDA [crônica]

Fiz, em setembro de 1998, um texto autobiográfico sobre um fato futebolístico ocorrido uns 10 anos antes quando ainda estava no ginásio (pois é faz tempo, mas atualizei alguns termos).
Apesar de algumas firulas, a história é real, infelizmente, no entanto alguns nomes foram alterados para preservar as pessoas envolvidas (no caso, eu mesmo!).
Segue, então, o relato do quase nascimento de um astro do esporte!


ASCENÇÃO E QUEDA (literalmente!) DE UM ASTRO MIRIM

   Já fui um ídolo na escola. Foi quando eu estava no 8o ano, mais precisamente entre as 15 horas, 32 minutos e 8 segundos do dia 17 de agosto e as 15 horas, 32 minutos e 12 segundos do mesmo dia.
   Era o intervalo e apesar de estar de sapato, acabei entrando num jogo de futebol da turma da minha classe contra o 9oB.
   Nunca fui um craque no futebol, um bom jogador, talvez. Pra falar a verdade, razoavelzinho já seria um adjetivo de bom tamanho. Isso era também o que todos pensavam de mim até que uma bola foi lançada pelo alto em minha direção. Já ouviu falar em Pelé? Aprendeu comigo.
   Olhei a pelota chegando, estufei o peito e saltei. E tudo foi acontecendo em câmera lenta. Enquanto eu subia a arquibancada toda se levantava com olhos arregalados de admiração. No ar, como que levitando, matei a redonda no tórax - matar no peito àquela altura era coisa para amador - como só eu e o Edson sabíamos fazer.
   "Quem é o garotão ali?" perguntaria Mano Menezes, e a menina mais linda da escola, com os olhos brilhando, responderia para ele com a voz mais derretida do mundo: "É o Super Lauro, o meu herói!". Morram de inveja meus inimigos.
   Com o tórax lancei a 'peteca' à frente e fui descendo lentamente. Havia um grande corredor vazio até o gol adversário. Já com os pés no chão, adiantei um pouco mais a bola...
   "Lindo! Lindo!". Dei um passo... "Maravilhoso!". A bola foi correndo... "Lauro! Lauro! Gatão!". Cara a cara com o gol preparei-me para o chute como qual assinaria meu contrato com o estrelato...
   Manchetes de jornais: "Lauro, o novo Rei da escola", "Ninguém pode com Lau", "O herói do ano"...
   Foi quando a sola recauchutada do meu sapato descolou, enroscou no piso da quadra e me fez perder o equilíbrio. Por favor, troquem a slow motion pela câmera rápida.
   "Lau, um fiasco no futebol", "Menino perde o equilíbrio e se espatifa no chão", "Garoto nó-cego perde gol feito".
   Descobri que nem todos podem ser astro e, assim, toda minha popularidade de 4 segundos caiu e rolou pelo chão comigo e com meu sapato marrom.
   "Nunca achei que ele fosse bonito".
   E lá se iam as mulheres, a fama, a fortuna, minha vaga na seleção brasileira e minha dignidade juvenil...

___Ronaldo dos Santos

quinta-feira, 23 de junho de 2011

POESIA CIRCULAR [poesia]

Fiz, na madrugada de 23 de junho/11, um texto cujo verso final se liga ao primeiro, tal qual o primeiro continua no segundo e assim sucessivamente. Desta forma, você pode começar a ler a partir de qualquer linha, desde que retorne do fim ao início até reencontrar o ponto em que começou.
Enfim, leia como quiser...

POESIA CIRCULAR

Se não leve: pesado.
Ou se não leve: traga.
Se não traga: aspira.
Ah! se pira: louco.
Ou se pira: fogo.
Se há fogo: queima.
Se afogo: água.
Se não água: morro.
Esse morro: alto.
Se não morro: plano.
E se plano: voo.
E se voo: leve.

___Ronaldo dos Santos